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Estive pensando. Pensando por minutos. Até que. Conclui. - Opiniões com conceitos quase formados.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013




1.      AUTOR E OBRA


a)      NOME DO AUTOR:  Peter Brown
b)      TÍTULO DO LIVRO: História da vida privada: Antiguidade Tardia(2)
c)      Data, ano, período da publicação; Antiguidade clássica.
d)      Comentários sobre a obra ou documento: Brown apresenta abordagens culturalistas, destacando-se nas representações e simbolismos. Como também retrata algumas transformações.

e)      Comentários sobre o autor: Peter Robert Lamont Brown (1935, Dublin), é um historiador irlandês, tornou-se aos 32 anos de idade a maior autoridade sobre Agostinho de Hipona, é citado como o historiador mais destacado em Antiguidade tardia.


2.      O TEXTO


a)      TEMA: A Antiguidade Tardia
OUTROS ASSUNTOS TRATADOS: A religião, a nova moral, O elitismo pagão, casamento, sexualidade, nudez, cidade, mulheres, a questão do prazer(medo), filosofia cristã, entre outros.
b)     OBJETIVO E HIPÓTESES:
O estudo em questão deve compreender como os homens desta época lidaram com as mudanças, tão numerosas e complexas, que vão do social ao econômico. O que é visto como uma melancólica história da “queda e fim do Império Romano, pode perceber as novidades que começariam neste período.
c)      CONCEITOS UTILIZADOS:
A ideia de dualidade: O período já não é “Antigo”, pois não se encaixa no conceito de “Antiguidade Clássica”, mas também não é medieval.
Palavra como ''declínio'' e crise que sugerem problemas no fim do império e que eram bastante usuais até os anos 1970 basicamente desapareceram dos vocabulários dos historiadores, para serem substituídos por termos neutros como ''transição'', ''mudança'' e ''transformação''

a)      O QUE O AUTOR DEFENDE
Brown apresenta abordagens culturalistas.


3.      CITAÇÕES DE INTERESSE

“ ...No final da Republica e no começo do império, as mulheres dos homens públicos eram tratadas como seres periféricos que não contribuíam em nada,- ou bem pouco-, para o papel publico de seus maridos.”

“ Por íntima que seja a vida de uma cidade média, Roma é um império fundado na violência e protegido pela violência.”

“ A doutrina da sexualidade como sintoma privilegiado da transformação pessoal é  a mais importante transferência jamais alcançada do velho e ardente desejo, judeu e cristão, de um “coração simples”..”

4.      OBSERVAÇÕES PESSOAIS

"Antiguidade Tardia" para o período de transição entre os mundos clássico e medieval, que ocorreu entre os séculos III e VIII da era Cristã. O período classificado como Antiguidade tardia foi explicado por diversos historiadores sob o aspecto político, abrangendo na política os outros aspectos como o social e cultural. Dentro da história tradicional, a passagem da Antiguidade Clássica para a Idade Média seria vista e explicada como uma transição entre o fim do Império Romano e o início da Idade Média.





1.      AUTOR E OBRA

a)      AUTOR: Marc Bloch
b)      LIVRO: A Sociedade Feudal
c)      ANO DE PUBLICAÇÃO: 1939 e 1940

d)     OBRA: Marc Bloch pretende analisar em “A sociedade feudal”, considerada a sua maior obra, como o título já diz, a sociedade essencialmente definida como “feudal”, a da Europa central e Ocidental que se estendeu dos meados do século IX até as primeiras décadas do século XIII. Neste livro, o autor apresenta uma nova abordagem sobre a questão do feudalismo que marcaria profundamente sua carreira como um grande medievalista. Bloch dá-los a conhecer o meio e as condições de vida, os laços
de sangue, a “vassalidade” e o feudo, as classes, a dependência das classes inferiores, o governo dos homens e a “feudalidade” como tipo social. Ao mesmo tempo avalia o papel da Igreja, da realeza, da força burguesa, da cidade, da comuna. Um fresco notável de um dos mais insignes historiadores do século XX.


e)      AUTOR:  Especialista em história medieval, Bloch distingue-se ainda como conhecedor da história das populações rurais. Durante cerca de dez anos, de 1929 a 1938, sua maior atividade concentra-se na divulgação dos Annales, que publica alguns de seus notáveis artigos, como "O problema do ouro na Idade Média" e "Aparecimento e conquista do moinho d'água". É considerado o maior medievalista de todos os tempos e, para alguns, o maior Historiador do século XX. Como um dos grandes responsáveis pela renovação do pensamento histórico, abriu novos horizontes para compreensão do feudalismo.


2.      O TEXTO

a)      TEMA: Feudalismo

b)      OUTROS ASSUNTOS TRATADOS:  Situação da Europa com as invasões mulçumanas, hungara e Normanda (Causas e consequências).


c)      OBJETIVOS E HIPÓTESES: O Sacro Império de Carlos Magno desmorona no próprio século IX e a Europa assistem a novas incursões de húngaros, normandos e árabes.

d)     CONCEITOS UTILIZADOS: “ Separação entre Igreja e Estado, ao contrário do que ocorria tanto em Bizâncio como no Islã.” “preservação da ideia de Império”
“III - Período de apogeu, que pode ser limitado apenas à chamada Alta Idade Média dos séculos XII e XIII,”

e)      POSTURA TEÓRICA:
Para Marc Bloch, “o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa”, portanto o passado não se modifica. Este método regressivo está ligado a ligado à defesa de uma postura diferenciada frente às fontes.


f)       O QUE O AUTOR DEFENDE
O autor apresenta uma nova abordagem sobre a questão do feudalismo. . Bloch dá-nos a conhecer o meio e as condições de vida, os laços
de sangue, a “vassalidade” e o feudo, as classes, a dependência das classes inferiores, o governo dos homens e a “feudalidade” como tipo social.

g)      O QUE O AUTOR CRITICA

h)     BIBLIOGRAFIA DE INTERESSE REFERENCIADA PELO AUTOR:
A obra de Doon, um cônego de Saint-Quentin; Histoire de l’Église Reims, de Flodoardo; O poema de Beowulf.


3.      CITAÇÕES DE INTERESSE

“ Dos inimigos que acabamos de numerar, o Ilusão era decerto o menos perigoso.”

“ Depois de Carlos Magno, todas as populações de língua germânica que habitavam ao sul da JutLandia, tornadas cristãs e incorporadas nos reinos francos, encontram-se sob a influência da civilização ocidental.”

“ Da tormenta das últimas invasões, o Ocidente saiu coberto de feridas.”



4.      OBSERVAÇÕES PESSOAIS

a)      Mesmo quando a Europa assume tal feição - que resulta do processo civilizatório do cristianismo, mas também da consolidação dos feudos. Ao mesmo tempo avalia o papel da Igreja, da realeza, da força burguesa, da cidade, da comuna. Um fresco notável de um dos mais insignes historiadores do século XX.

quinta-feira, 16 de maio de 2013




A mulher na Grécia Antiga

"A mulher grega estava afastada da vida cívica, não recebia educação e ficava trancada em casa."  


 A Mulher na História

Para o historiador da Antiguidade, faltam os arquivos para que o historiador possa refletir sobre o passado. Quem se dedica ao estudo do homem do Próximo Oriente Antigo ou das chamadas Civilizações Clássicas tem de fazer outro esforço, recorrendo a documentos muitas vezes esquecidos pelos investigadores que se dedicam a períodos mais recentes, a fim de obter informações que o permitiam recuperar minimamente o tempo que se pretende. Assim, a literatura, nas suas mais variadas vertentes, gêneros e estilos, aliam-se às artes plásticas e aos vestígios arqueológicos em geral para que, em conjunto, se possa ter uma perspectiva desse passado.

O estudo da mulher numa sociedade antiga, como por exemplo, a grega, tem necessariamente de utilizar essa metodologia. Aliás, para o caso da Grécia, foram mesmo às artes plásticas e a literatura que acabaram por conferir a terminologia cronológica ao processo histórico (período homérico, arcaico, clássico, helenístico), pelo que será natural que o estudo da mulher se faça seguindo essa mesma cronologia, segundo essa evolução artístico-literária que foi, necessariamente, acompanhada de mutações político-sócio-mentais.
A situação da mulher na Grécia variou de acordo com a cidade a qual ela morava, por terem características independentes cada cidade-estado desenvolveu uma cultura com traços particulares.
Em Atenas apesar de sua marca mais forte foi seu desenvolvimento nas áreas do conhecimento, as mulheres livres não eram consideradas cidadãs, tinham como responsabilidade os trabalhos domésticos e coordenar os trabalhos dos escravos, e viviam de uma forma geral sob a tutela de um homem, pai, marido ou de um filho. Seu casamento era organizado pelo pai e pelo esposo, e não tinham o direito de escolher seus maridos, sendo acerta pelo próprio pai. As mulheres mais pobres muitas tinham que auxiliar seus maridos no orçamento da família, exercendo atividades em sua maioria de vendedora.
Em Esparta, as mulheres tiveram um pouco mais de liberdade, devido à característica militar da cidade, os homens passavam a maior parte do tempo em preparação para guerra ou na própria guerra, assim as mulheres tinham que assumir as responsabilidades pela administração dos negócios da família.

Uma vez casada estava submetida às ordens de seu marido, que lhe dava a tarefa de administrar o lar seguindo suas orientações, desta forma não tinha autonomia para resolver nada, passava seus dias reclusa em uma sala onde podia apenas praticar atividades domesticas, como trabalhos manuais, os cuidados com os filhos e outras tarefas deste porte.
Xenofonte, um autor do século IV a.C., retrata a condição feminina no casamento em sua obra Econômico, a partir da ótica de um marido, Iscomaco, que conta a Sócrates como instruiu sua esposa para que ela pudesse cuidar dos assuntos que lhe diziam respeito, mostrando-lhe os motivos do casamento e as tarefas do marido e da mulher:
(…) eu te escolhi e teus pais me escolheram entre outros partidos. E nós cuidaremos de educar nossos filhos da melhor maneira possível, pois teremos a felicidade de encontrarmos neles os defensores e nutridores da nossa velhice. (…) Eu penso que os deuses escolheram o casal que chamamos macho e fêmea a partir de uma reflexão, e para o bem da comunidade. Em primeiro lugar os casais se unem para procriar; depois, entre os humanos, os pais, quando velhos serão alimentados pelos filhos; e como os homens não vivem ao ar livre como as animais, precisam de abrigos. E se os homens querem ter coisas para trazer para os seus abrigos, precisam fazer trabalhos ao ar livre, de onde se traz o que é necessário para a vida, a agricultura e a criação de animais. E quando as provisões chegam ao abrigo, é preciso alguém para conservá-las. Há outros trabalhos que só podem ser feitos em lugares fechados: cozinhar, tecer e educar as crianças. Ora, como essas duas funções, do interior e do exterior, exigem atividade e cuidado, os deuses tornaram a natureza da mulher própria aos trabalhos do interior, e a do homem própria para os trabalhos do exterior. (…) será necessário que fique na casa, que mande sair o grupo de empregados que tenha o que fazer fora, que supervisione o trabalho daqueles que ficam na casa, que receba as provisões que trouxerem, distribuindo as que precisarem ser consumidas e guardando as outras, cuidando para não gastar as reservas do ano em um mês. Quando trouxerem a lã, deverá cuidar para que teçam roupas para aqueles que precisam. Deverá também cuidar da conservação dos alimentos armazenados. Uma de suas ocupações, e da qual talvez não goste, será tratar dos empregados que adoecerem. ”[1]
Mesmo levando uma vida tão submissa não se têm relatos de insubordinação, no que podemos concluir que o comportamento feminino, em vias gerais, era a resignação.
Dentro deste contexto, encontramos casos de mulheres que tinham autorização de seus maridos para saírem de casa, porém eram apenas nos casos das famílias menos favorecidas economicamente, que por extrema necessidade tinham que provir o sustento da família. Um exemplo típico era o da mulher do pescador, que vendia o peixe que o marido pescava.
As diferenças entre as classes sociais alteravam, modificando alguns hábitos, não tornando a vida dessas mulheres mais dignas. Elas eram desprovidas do direito à cidadania dentro de sua civilização.
Suportavam o desprezo dos seus maridos que, as utilizavam apenas para fins de procriação, não havendo uma relação afetuosa entre o casal. À mulher cabia a função de gerar filhos – que iriam dar continuidade ao patrimônio faria a manutenção do culto doméstico, protegeriam os pais na velhice e dariam continuidade à ordem cívica e ao equilíbrio entre o espaço público e espaço privado, fatores essenciais para a manutenção da sociedade grega.


Livro: A mulher na história
A Mulher na Grécia Antiga por: Dr. Nuno Simões Rodrigues

Homérico
A sociedade grega foi sempre uma sociedade essencialmente masculina, andro-cêntrica, cuja vida pública gira em torno de dois pólos essenciais: a guerra e a política. A história do mundo grego resume-se em parte a isso mesmo: homens que contam para homens uma história que tem como únicos protagonistas os homens.
Todavia as mulheres, apesar de não ativas, não estão excluídas do universo destes heróis. Aliás, nem poderiam estar, pois de alguma forma elas completam-nos, quer como recompensas merecidas e símbolos sexuais, quer como progenitoras, esposas ou amas.
Entre estas mulheres é possível estabelecer grupos socialmente diferenciados: se por um lado temos as esposas, mães e filhas de heróis, por outro temos as servas e as cativas; além de que há ainda as deusas, como Tétis, Hera, Afrodite, Atena, Circe ou Calipso, cujo comportamento poderá ultrapassar a vida terrestre das outras, mas que mais cedo ou mais tarde também o reflete.
Consoladoras, pacificadoras, amantes, sedutoras, as deusas gregas parecem assumir todas as características reconhecíveis no feminino. E algumas da esfera do masculino, como a dominação, a guerra e a caça.
Vejamos em primeiro lugar a nobreza. A esposa do herói ganha algum do prestígio que cobre o seu marido. Esse prestígio expressa--se pela posição de destaque que têm pelo fato de serem rainhas ou princesas. O estatuto de rainha ou de princesa obtém-se através quer do casamento quer da descendência.
 A forma mais usual para que um nobre consiga uma mulher é através do intercâmbio de presentes, pagando os “hedna”, aquilo que oferece ao pai da noiva, em troca desta. Através deste «negócio», a mulher torna-se a esposa legítima, a alókos (seio de uma mãe), do homem, aquela que doravante partilhará o seu leito e de quem se espera que conceba filhos. Era este costume, praticamente um acordo privado entre duas casas, que regulamentava o casamento, não havendo na Grécia qualquer tipo de concepção jurídica abstrata, como houve em Roma, a que se pudesse chamar direito matrimonial.
A mulher grega casava em média aos 15 anos de idade e era entregue a um homem que não casava antes dos 30. Procriava a maior parte do seu tempo, fértil, sendo a gravidez e suas condicionantes as principais causas da mortalidade feminina, que rondava, em média, os 36 anos. Menos nove do que o homem.
De qualquer modo, o concubinato (união de duas pessoas só pelo “carnal”) parece ter existido entre os Gregos desde muito cedo, pois apesar de casados, os heróis homéricos dividem as atenções entre as suas esposas e outras mulheres.
Já a situação oposta não é reconhecida. Se o concubinato é «natural» para o homem, para a mulher é considerado adultério, com direito à pena capital.
O fato de a função da mulher estar biologicamente condicionada e por isso ter, em primeiro lugar, a responsabilidade de assegurar a continuidade da família e a transmissão do patrimônio através do casamento. Que, aliás, não passava, por isso mesmo, de uma instituição de caráter religioso e político. A imagem da homossexualidade, para a mulher, Isso porque uma mulher cuja sexualidade se orientasse exclusivamente para outras mulheres seria entendida como totalmente inútil e até mesmo ameaçadora deste equilíbrio sócio—comunitário.
Assim, havendo necessidade de preservar a legitimidade dos filhos, o concubinato era permitido ao homem, mas à mulher era totalmente interdito e, conseqüentemente, socialmente rejeitado e condenado. Mais tarde, Sólon legislará sobre esta questão e a mulher adúltera poderá ser «simplesmente» vendida como escrava.
Refira-se ainda que as mulheres vítimas de violação sexual fossem tratadas como se fossem adúlteras, visto que os maridos poderiam repudiá-las por justa causa, dado que a legitimidade da transmissão patrimonial fora ameaçada.

O gênero masculino corresponde à cultura, a civilização, a guerra, a política, a razão e a luz, numa palavra, a ordem ou o cosmos; ao gênero feminino corresponde a natureza, a misantropia, a atividade doméstica, a imoderação, à noite, numa palavra, o caos ou tudo o que põe em perigo a ordem estabelecida.

Arcaico-

No período arcaico, e com o nascimento da cidade, esta situação da mulher  parece acentuar-se. Sabemos muito pouco acerca da mulher grega desse período, mas, pelo que sabemos, não seria honesto afirmar que a mudança foi radical; mas foi suficientemente diferente para a podermos detectar e sistematizar.
Na verdade, a mulher permanece ligada a casa e à família, e a sua função de assegurar a descendência ao senhor da casa mantém-se também. Todavia, algumas das disponibilidades possíveis de identificar nas fontes homéricas cessaram ou transformaram-se durante o período arcaico.

Em finais do período arcaico começamos a detectar nas fontes a existência de outro grupo de mulheres. Na epopéia de Homero, esse papel reservava-se a deusas ou a ninfas, os únicos seres que podiam assumir o desejo sexual e a satisfação do mesmo aos heróis, saindo impunes de cena. Agora isso não é mais possível. A sexualidade passa a ser bipartida: a que permite a descendência, e essa está reservado à esposa legítima e a que permite o prazer, e essa se reserva para as cortesãs ou para as prostitutas.
Em Atenas, com Sólon, que oficializa a diferença entre «mulheres decentes» e prostitutas, e regulamenta o comportamento social das mulheres em geral. Esse controlo passou a dominar a comunidade feminina e nem a sua vida privada escapou: sabemos, por exemplo, que uma «boa cidadã» poderia estar sujeita a três contactos sexuais mensais com o seu marido.  A procriação era o objetivo a alcançar. Talvez por isso as fontes iconográficas sugiram tantas vezes o recurso das mulheres à masturbação, a forma encontrada para aliviar a tensão sexual.
Contudo, nestas duas classes de mulheres, os Gregos faziam ainda algumas distinções. A cortesã, a hetaira, era mais uma companheira do que simplesmente um objeto de satisfação sexual. A figura da cortesã associava-se à vida mundana, sendo que esse tipo de vida se caracterizava pela freqüência de banquetes e de reuniões em casas de diversas personalidades da cidade. Estas mulheres acabavam por serem as únicas verdadeiramente livres, pois saíam livremente e participavam nos eventos sociais reservados aos homens, desde os banquetes privados às festas de Elêusis ou às grandes Panateneias. Uma mulher respeitável não assiste a um banquete, ainda que este se celebre na sua própria casa. Não pode sequer ousar fazer uso da palavra em público, o silêncio é a maior virtude da mulher, que deve além disso permanecer quieta e passar despercebida perante os homens.
Clássico-

E o período que se avizinha o classicismo, trará a consagração de um grande «clube de homens», a pólis, que encerrará a mulher ateniense, por exemplo, no gineceu. Aí, parecem continuar os trabalhos que Homero lhes atribuíra. Não se deslocam sequer ao mercado, pois havia a noção de que a compra ou as transações em geral eram demasiado complexas para as mulheres. Por outro lado, havia o perigo de expô-las a olhares estranhos e ameaçadores.
Se um homem rico podia suportar ter a sua esposa, filhas, irmãs ou mãe que fosse fechada em casa, rodeadas de aias, amas, servas e escravas, proibindo-as de sair a menos que acompanhadas, e quase exclusivamente para cumprir os seus deveres religiosos, o mesmo não se passava decerto com os camponeses menos ricos ou com os artesãos pouco endinheirados. Tal como já descrevia Hesíodo, as mulheres dos camponeses pobres «arrastavam as suas vidas junto dos seus maridos», na luta diária pela sobrevivência.
Tinham também as “kapelidas”, mulheres que moravam nos bairros, junto à Acrópole e que sobreviviam economicamente trabalhando no mercado.
Apesar de o termo cidadã existir, o seu uso não era generalizado, aliás, poder-se-ia considerar a mulher ateniense uma «menor», visto que a idéia de uma mulher solteira, independente e administradora dos seus próprios bens seria de todo inconcebível numa sociedade como a de Atenas no século V a. C. Primeiro dependia do pai e depois do marido. Caso não casasse, dependeria de algum irmão; e caso enviuvasse, sendo já órfã de pai, dependeria dos seus filhos varões. Pelo que, o casamento constitui não só o fundamento da situação da mulher, como um escape para resistência social. Se, eventualmente, uma jovem ateniense fosse epíkleros, isto é, a única herdeira da casa paterna, era obrigada a desposar o parente mais próximo do ramo paterno, para evitar o desmembramento do patrimônio.
Apesar destas restrições, o divórcio estava previsto na sociedade ateniense. Tal como hoje, havia o divórcio litigioso e o de mútuo consentimento. Neste último caso, o dote regressava naturalmente ao pai ou ao tutor legal, pois podia ainda servir para voltar a dotar a mulher para um eventual e desejado segundo casamento. E o mesmo acontecia se o marido morria antes da mulher e esta fosse ainda suficientemente jovem para procriar, podendo por isso voltar a casar-se. Mas se existiam filhos desse casamento, a mulher permanecia na casa do marido, pois o dote era adjudicado aos filhos. m caso de divórcio com mútuo consentimento, o que acontecia, na maioria das vezes, por iniciativa do marido, este devolvia a mulher e o respectivo dote à casa do sogro, para que este fizesse com a filha o que muito bem entendesse. Todavia, temos notícia de alguns casos em que a iniciativa do divórcio procedeu da mulher e não do marido, o que significa que essa era também uma situação possível.

Quando se estuda a sociedade ateniense clássica costuma dar-se particular importância aos estrangeiros que habitavam a cidade. Estes, vindos de outras cidades-estado, gregas e não gregas, poderiam residir livremente em Atenas,desde que pagassem o imposto devido pela sua situação de estrangeiros (o metécio).
As mulheres dos estrangeiros levavam, seguramente, uma vida semelhante às das mulheres dos cidadãos, ocupando-se da casa, fiando e tecendo, organizando e dirigindo o trabalho das servas.
Ao contrário das atenienses, que parecem ter sido enclausuradas em vida, as espartanas viviam para o exterior, e contribuíam tanto para o desenvolvimento e manutenção do Estado como os seus maridos, pais, irmãos e filhos. A maior evidência dessa participação ativa era o fato de serem treinadas na luta, tal como os homens, chegando a rivalizar com eles. Como em Esparta os cidadãos eram primeiro que tudo soldados, eximiamente treinados para a defesa e uso da comunidade, a suas esposas acompanhavam-nos nessas funções de dedicação cívica. Assim, trazer filhos ao mundo era a tarefa mais importante das espartanas, já que o Estado se encontrava constantemente em guerra e a produção de soldados era uma prioridade.  Ao contrário das atenienses, as raparigas de Esparta eram por isso bem alimentada, pois lhes exigiam uma excelente condição física para poderem procriar o melhor possível. O matrimônio era promovido em Esparta com base no fato de se desejar a procriação e por isso os solteiros eram ridicularizados e sofriam algumas desvantagens legais. Todavia, o aquartelamento constante dos homens até a idade de 30 anos e o vínculo ao serviço militar até aos 65 não favoreciam a vida conjugal. Aliás, esta era quase restrita ao contato sexual essencial para promover a reprodução. O que também se coadunava com a entrega dos filhos ainda crianças ao Estado, para que este fizesse deles excelentes espartanos. Situações que favoreciam a homossexualidade, tanto a masculina, como a feminina. O chamado «amor sáfico». Tal como para outras culturas, a mulher era para o homem não apenas uma reprodutora necessária à sobrevivência da comunidade, como também uma fonte de atração, sedução, amabilidade, prazer, paixão e, obviamente, amor.
No período helenístico, e apesar de haver uma necessidade de distinguir a mulher grega da mulher no mundo grego, a situação geral das mulheres modificou-se. Entre outras mudanças, a abertura do mundo exterior aumentou para a mulher.
Apesar das modificações, jamais a mulher grega atingiu um nível completude emancipação da tutela parental. Como jamais conseguiu desempenhar um papel político de relevância, a não ser nos bastidores, como Olímpia da Macedônia, ou à boca de cena, com as raríssimas exceções de algumas rainhas helenísticas.



Prostituição feminina na Grécia Antiga
A prostituição era uma componente da vida cotidiana dos Gregos antigos. Nas cidades gregas mais importantes, e em particular nos portos, empregava uma parte não negligenciável da população, representando uma atividade econômica de relevo. A prostituição não era clandestina: as cidades não a puniam e os bordéis trabalhavam à vista da população. Em Atenas era atribuída a Sólon a criação de bordéis estatais com preços regulados. A prostituição envolvia de forma desigual os sexos: mulheres de todas as idades e jovens do sexo masculino prostituíam-se para uma clientela majoritariamente masculina.
Simultaneamente as leis censuravam severamente as relações com uma mulher livre fora do contexto do casamento, pois se esperava destas a castidade. Em caso de adultério, o marido enganado tinha o direito de matar o ofensor, caso o apanhasse em flagrante delito; aplicava-se o mesmo em caso de violação. A idade média de casamento para os homens era aos trinta anos, pelo que o jovem ateniense que desejasse manter relações sexuais não teria outro recurso senão recorrer à prostituição.
A existência de uma prostituição feminina destinada às mulheres encontra-se pouco documentada. No Banquete de Platão, Aristófanes menciona as ταιρίστριαι / hetairístriai no seu famoso mito sobre o Amor: "Todas as mulheres que são o corte de uma mulher não dirigem a sua atenção aos homens: elas preferem as mulheres e daqui provem as hetairístriai". O significado desta palavra é obscuro, sendo traduzível pelo moderno conceito de lésbica ou então como cortesã. Luciano de Samósata refere-se a estas no Diálogo das Cortesãs, mas é possível que seja apenas uma alusão à passagem da obra de Platão.

Pornai

As prostitutas da Grécia Antiga podem ser enquadradas em várias categorias. Na parte inferior da escala encontravam-se as πόρναι/pornai, palavra que deriva de πέρνημι/pérnêmi "vender". Estas mulheres eram em geral escravas, propriedade de um πορνοϐοσκός / pornoboskós, isto é, de um proxeneta, que retirava para si uma quantia do dinheiro por elas ganho. O dono destas prostitutas poderia ser um cidadão, pois se trata de uma forma de rendimento igual a qualquer outra. Teofrasto, na obra Caracteres (VI, 5), cita o proxeneta na lista de profissões correntes, onde se incluem o dono de uma hospedaria e o colector de impostos. O dono poderia também ser um ou uma estrangeira (meteco).
Na Época Clássica as prostitutas são escravas de origem bárbara. Durante a Época Helenística juntam-se a estas jovens abandonadas pelo pai, consideradas como escravas até prova em contrário. As prostitutas trabalhavam em bordéis, geralmente situados em zonas da cidade associadas à atividade, como o Pireu (porto de Atenas) ou o Cerâmico. A sua clientela era composta por marinheiros e cidadãos pobres.
Nesta categoria também se enquadram as mulheres que trabalhavam nos bordéis estatais de Atenas. Segundo Ateneu de Naucrátis, citando o autor cómico Filémon e Nicandro de Cólofon, foi Sólon quem "preocupado em acalmar os ardores dos jovens (...) tomou a iniciativa de abrir casas de passe e de ali instalar mulheres compradas". O mesmo Sólon teria mandado erguer com dinheiro taxado à atividade da prostituição o templo de Afrodite Pandemos, "Afrodite do povo". Embora estes relatos possuam uma veracidade duvidosa, não deixa de ser revelador que em Atenas se considerava a prostituição como parte da democracia.

Prostitutas independentes

Um grau acima das pornai encontrava-se as prostitutas independentes que trabalhavam nas ruas. Para além de mostrarem os seus encantos diretamente aos clientes, estas mulheres recorriam a verdadeiras técnicas publicitárias, usando umas sandálias especiais cuja sola estava preparada para deixar inscrito no solo ΑΚΟΛΟΥΘΙ / AKOLOUTHI, "segue-me". Estas prostitutas utilizavam também uma maquiagem garrida.
Estas mulheres eram de origem diversa: mulheres estrangeiras que não encontravam emprego na cidade a que tinham chegado, viúvas pobres, antigas pornai que tinham adquirido a sua liberdade (mas que tinha que pagá-la). Em Atenas estavam sujeitas a uma taxa e tinham que ser registradas. Os serviços sexuais faziam parte da prestação dos serviços, tendo os preços tidos uma tendência para aumentar, apesar do controlo dos astinomos.

As hetairas

As hetairas, ou heteras, encontravam-se no mais alto grau das prostitutas da Grécia Antiga. Ao contrário das outras, não se limitavam a oferecer serviços sexuais e não trabalhavam "por peça". As hetairas eram antes acompanhantes, em certa medida comparáveis às gueixas: possuíam uma boa educação que lhes permitia dialogar com figuras cultivadas. As hetairas eram independentes e poderiam gerir os seus próprios bens.

Condições de vida das prostitutas

A condição das prostitutas é difícil de avaliar; pelo simples fato de serem mulheres, já se encontravam relegadas a uma posição inferior na sociedade grega. Não se conhecem testemunhos diretos sobre as suas vidas nem descrições dos bordéis onde trabalhavam. É muito provável que os bordéis da Grécia fossem semelhantes aos de Roma, descritos pelos escritores e preservados em locais como Pompéia: locais escuros, estreitos e malcheirosos. Um dos termos correntes entre os Gregos para designar uma prostituta era χαμαιτυπής / khamaitypếs, o que significa "que toca a terra", sugerindo que a prestação do serviço tinha lugar no chão.
Para um grego uma pessoa que se prostituía, fosse mulher ou homem, o fazia por necessidade econômica ou por gosto pelo lucro. A ganância das prostitutas é assim um tema recorrente na comédia grega. Deve ser referido que em Atenas elas eram as únicas mulheres a lidar com dinheiro, o que provavelmente provocava o ressentimento dos homens. Outra explicação possível para este suposto gosto pela ganância relaciona-se com a curta duração da carreira de prostituta: para poderem guardar algum dinheiro para a velhice tornava-se conveniente acumular o máximo de dinheiro em pouco tempo.
Os tratados de medicina fornecem um olhar, se bem que parcial e incompleto, sobre a vida quotidiana das prostitutas. Para as prostitutas escravas tornava-se necessário a evitar a todo o custo a gravidez. Os métodos contraceptivos usados pelos Gregos são menos conhecidos que os utilizados pelos Romanos. No entanto, num tratado atribuído a Hipócrates, descreve-se o caso de uma dançarina "que tinha por hábito ir com os homens", à qual recomenda saltar para desta forma fazer sair o esperma, evitando o risco de gravidez. É também provável que as pornai recorressem ao aborto e ao infanticídio por exposição.
A cerâmica grega permite igualmente conhecer a vida das prostitutas. A representação das prostitutas pode ser dividida em quatro categorias: cenas de banquete, cenas de atividade sexual, cenas de satisfação de necessidades fisiológicas e cenas de maus-tratos. Nas cenas de satisfação das necessidades fisiológicas é freqüente que a prostituta seja retratada com um corpo pouco gracioso, ou seja, com peito descaído e adiposidades. Nas cenas de relações sexuais, reconhece-se a presença de uma prostituta pela presença de uma bolsa. A posição sexual mais representada corresponde à mulher sendo penetrada encontrando-se de joelhos, o que pode corresponder à penetração vaginal ou anal. O sexo anal era considerado degradante e aparentemente esta posição era descrita como pouco agradável para a mulher. Alguns vasos mostram cenas nas quais as prostitutas são ameaçadas com um pau ou uma sandália a aceitar realizar atos considerados degradantes, como a prática do sexo oral e sexo anal.

Preços

Tal como no caso das mulheres, os preços cobrados pelos serviços variam consideravelmente. Ateneu refere-se a um rapaz que oferecia os seus serviços por um óbolo, mas o valor é considerado demasiado baixo.